
Júlia
O garoto do perfume ficou conversando com Carol e eu fiquei tentando dançar, ou fazer qualquer movimento com o corpo para evitar que a tristeza me atingisse outra vez. Mas por dentro eu estava muito mal.
– Oi, quer dançar? – um homem parou ao meu lado e perguntou.
Eu ainda estava num mundo paralelo, destruída pela raiva e tristeza dos últimos acontecimentos com Diego. A pergunta dele foi sendo processada pelo meu cérebro em câmera lenta. Antes que eu pudesse responder, ele voltou a falar.
– Tudo bem. Não acreditava mesmo que você fosse aceitar. Mas como eu sou burro e devo gostar de sofrer, vim perguntar mesmo assim.
Ele parecia pior do que eu. Senti vontade de ajudá-lo, afinal eu sabia muito bem como era horrível estar triste numa festa onde todo mundo parecia extremamente feliz.
– Não sei dançar muito bem. Mas acho que podemos tentar – eu disse.
– Posso te ajudar com o pouco que eu sei.
Começamos a dançar e conversar. Arthur me contou sua história com a ex-namorada. Ela o traiu com seu “amigo” depois de quatro anos de namoro. Os três cursavam Direito, estudavam na mesma sala e faziam tudo juntos.
Um belo dia, ou melhor, num trágico dia, durante a festa de aniversário dele, Arthur foi ao banheiro e se deparou com sua namorada e seu amigo aos beijos. Ele foi embora e depois disso não falou com nenhum dos dois. O encontro inevitável seria na volta às aulas e ele não sabia o que fazer.
Eu queria dar algum conselho do tipo: “vai passar”; “você é superior a isso tudo; ela não te merecia”; “foi melhor para você…”
Mas eu não conseguia nem me ajudar. O único jeito foi falar dos meus problemas também para ele não se sentir sozinho.
No final da festa, após os desabafos, estávamos nos sentindo melhor, mais leves.
Quando cheguei à casa de Carol, a tristeza me pegou novamente. Chorei escondida no banheiro, me sentindo rejeitada. Era difícil aceitar que meu amor não era correspondido.
Carol me consolou até o cansaço me vencer. Eu ia dormir mais uma noite na casa dela. Lá não tinha nada que me lembrasse Diego, a minha estava cheia de fotos, ursinhos e algumas cartas de amor que ele me mandou no início do namoro.
No outro dia, ela foi encontrar o menino que iria comprar o perfume. Fiquei com receio, mas ela garantiu que não tinha nenhum risco.
Carol saiu antes das 19h e já estava perto das 22h. Comecei a ficar preocupada, se ela não desse notícia até as 23h, eu ia ligar.
Faltando quinze minutos pras 23h ela chegou.
– Como foi lá? Depois desse tempo todo deve ter vendido até a casa do seu pai.
– Kkkkkk. Foi tudo tranquilo, Juh. Ele pagou os R$ 700,00 assim que cheguei, não teve nenhum problema.
– Que maravilha. Finalmente uma notícia boa. Mas eu te conheço muito bem, Carol. Sei que tem mais coisa pra contar. Pode dizer logo.
Carol sorriu e contou que ficou com ele. Ela falava de um jeito que parecia completamente encantada. Foi a primeira vez que a vi tão empolgada com algum menino.
Não queria que ela sofresse, mas, depois de alguns dias, o que eu temia aconteceu. Ela estava completamente apaixonada e ele sumiu.
Carol não quis me dizer, mas percebi seu sofrimento. No último mês eu tinha ficado especialista sobre a dor da rejeição que ela sentia agora. Eu só não esperava que Rodrigo fosse aparecer justamente no dia do meu aniversário.
Carol
– Carol, posso falar com você?
– Não.
– Ei, espere. Vamos conversar, por favor.
– Conversar o quê? Não tenho mais nada para falar com você.
– Calma, Carol. Tudo bem que não foi legal você me ver beijando aquela garota, mas não tínhamos nada sério. Apenas ficamos algumas vezes. Não é como se fôssemos namorados e eu estivesse te traindo.
Engole essa trouxa. Sofrendo por um relacionamento imaginário.
Me virei para ir embora e ele segurou no meu braço.
– Me solte – eu não suportava nem olhar para ele.
– Carol, por favor, não tem necessidade disso.
Puxei meu braço. Ele não disse mais nada, apenas ficou me olhando. Fui embora.
Júlia percebeu que eu não estava bem assim que me viu.
– Aconteceu alguma coisa? Você parece triste.
– Rodrigo. Descobri o motivo de ele não ter retornado as minhas ligações. Estava na porta do banheiro, se afogando na boca da Mulher Maravilha.
– Ah, Carol. Não fique assim. Tinha certeza que ele era desse tipo que trai, engana, foi melhor você ter descoberto logo.
Concordei com Júlia e tentei me manter animada.
– Pode ficar tranquila, Juh. Eu estou bem. Vamos aproveitar a noite.
– Não precisa forçar nada, Carol. Se quiser ir embora, me fale.
– Não quero e não vamos. Como Rodrigo me lembrou, apenas ficamos alguns dias. Não tenho que sofrer por vê-lo beijando outra garota.
Falei uma das mentiras clássicas para quem já está gostando da pessoa mesmo não sendo namoro. Eu me sentia traída, mas não podia sair gritando e chamando ele de safado.
– Ele é muito ridículo – Júlia disse.
– Não quero mais falar dele. Vamos aproveitar.
Começamos a dançar. Eu realmente queria me animar, mas nada favorecia. Não fazia nem dez minutos do primeiro golpe e levei o segundo: Vitor dançando e beijando outra menina.
Ele sorria, brincava com o fato de não acertar os passos, abraçava e beijava a menina. Parecia muito feliz. E eu, que terminei o namoro com ele pensando em ficar solteira e radiante de felicidade, estava a amargura em pessoa.
Comecei a sentir raiva de Vitor também. Era outro traidor. Quando namorava comigo nunca queria sair de casa. Odiava festa e muita agitação. E agora estava ali, exalando alegria. Falso!
Pensei em beber, mas desisti. Fui sincera comigo e aceitei o fato de que se eu bebesse as lágrimas seriam minhas companheiras pelo resto da noite e eu não precisava de mais um mico.
Tomei água. Muita água. Muita água mesmo. Passei a noite indo e voltando do banheiro. Quando a tristeza queria me abater a vontade de fazer xixi me distraía. E assim a noite foi passando.
Estava voltando de mais uma ida ao banheiro e me deparei com uma cena que me partiu em mil pedaços.
Vitor e sua “ficante”, o irmão de Rodrigo – abraçado com uma menina – e Rodrigo ao lado da pessoa que ele beijou no começo da festa. Todos juntos, sorrindo e dançando.
Comecei a chorar. Não teve técnica que resolvesse. Rodrigo e Vitor me viram. Olhei pra um, depois pro outro e saí correndo.
– O que aconteceu, Carol?
– Você não vai acreditar, amiga. Meu Deus. Eles me enganaram. Foi tudo combinado e eu caí direitinho.
As lágrimas e os soluços engoliam a minha voz.
– Respire. Prenda a respiração, conte até cinco e solte – Júlia tentava me acalmar.
Fiz o que ela disse e voltei a falar.
– Rodrigo e Vitor. Eles se conhecem. Foi tudo combinado. Como Victor foi capaz de fazer isso comigo? Armar essa vingança idiota. E o pior, eu caí.
Eu sentia demais ter que acabar o aniversário de Júlia antes do tempo. Mas eu não conseguia. Tornou-se impossível continuar ali.
No caminho de volta, meu celular começou a tocar. Era Rodrigo. Não atendi. Ele mandou mensagens.
“Não é assim como você está pensando”.
“Vamos conversar,Carol. Eu posso te explicar melhor”.
“Posso ir na sua casa?”
Entre as mensagens de Rodrigo, chegou uma de Vitor.
“Desculpa. Não pensei que você fosse ficar tão chateada”.
Os pais de Júlia tinham viajado para praia e só iriam voltar no dia seguinte. Achei melhor irmos para a casa dela, assim não corria o risco dos meus pais me verem chorando.
Mandei uma mensagem pedindo a minha mãe e ela concordou que eu dormisse lá.
Chorei a noite toda. Saber que Rodrigo não merecia o que eu sentia já tinha doído bastante, agora saber que Vitor teve coragem de tamanha safadeza. Era demais.
Como eu fui burra.
Não sei em que momento eu dormi, mas acordei com Giana batendo na porta do quarto de Júlia.
– Júúúúlia. Acorda!
TOC! TOC! TOC! TOC!
– ACORDA, Júlia! Júúúúúúúúliaa.
– O que foi, Giana?
– Tem um homem nu dentro de caaasa!!!
Continua…
Plá
Se a situação estiver muito ruim, não se desespere, pode piorar.