E se eu amasse o Outro?

mulher angustiada

Escondi o celular embaixo do travesseiro, mas não estava adiantando. Já era a segunda vez que eu o retirava em menos de cinco minutos. Coloquei no silencioso na esperança de ser surpreendida. Olhei novamente e nada. Resolvi que iria dormir. O tempo do sono seria o prazo para o recebimento da tão esperada mensagem. Fechei os olhos. Será que chegou? Vou olhar só mais uma vez. Não! Eu vou dormir. Eu não conseguia relaxar.

Depois de cinco minutos com meus globos oculares espremidos pelas minhas pálpebras, nada de sono. Levantei e fui tomar banho. Decidi lavar o cabelo. Demoraria mais e poderia ser o tempo suficiente para ele responder. Coloquei o shampoo, comecei a esfregar lentamente e, novamente, o pensamento de que a mensagem já estaria lá esperando para ser lida me fez apressar o processo. Não passei o condicionador.

Os pingos daquele cabelo ressecado escorriam pelo meu corpo e encharcavam a toalha. Um caminho de água se formou do banheiro até minha cama. Enfiei a mão debaixo do travesseiro e o peguei. Puxei lentamente e olhei para sua tela.

“Oi”

Desbloqueei imediatamente o celular para ver o conteúdo completo. Não era possível que fosse só aquilo. Parei diante da tela iluminada que após alguns segundos ficou escura como meu coração.

Uma mensagem com mais de dez linhas, algumas lágrimas derramadas durante a escrita e a resposta era apenas: “Oi”.

Não recebi nem um ponto de exclamação!

Decidi ligar e perguntar se ele leu todo o texto: “Amor… Saudade… Sinto sua falta…”. Comecei a digitar o número. Naquele momento a palavra orgulho não existia em meu vocabulário. Uma nova mensagem:

Marina lhe enviou uma imagem. “Olha quem tá aqui no meu condomínio”

Desisti da ligação.

Uma foto dele. Sem camisa e jogando futebol.

Respirei aliviada. A culpa da concisão era do futebol. Acabando o jogo chegaria um “textão” regado de amor e muitos parágrafos. Seria apenas uma questão de tempo.

Três horas depois, restando apenas 1% de confiança, um alerta de nova mensagem. O celular caiu com a minha euforia. A tela ganhou uma fissura, mas nada tiraria minha felicidade. A menos que a mensagem não fosse dele e sim do Outro.

“Saudades… Você sumiu. Ficar comigo foi tão ruim assim? Deixa eu tentar outra vez! Vamos sair pra jantar amanhã? Beijão!!!!!!!!”

Era o Outro.

Respondi:

“Oi”

Retribui com a mesma frieza para quem não merecia.

E e se eu amasse o Outro?

Bem, aí seria como nadar em piscinas naturais. Mas meu coração só gosta de navegar em mar revolto.

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