
Carol
Se você termina um namoro que não vai bem, cheio de rotina e com o amor agonizando, qual seria sua expectativa? Choro e decepções? Claro que não! Eu também pensei assim.
Nunca imaginei que pudesse sofrer tanto depois do meu término com Vitor. Parece que todas as maravilhas da vida de solteira se esconderam e só apareceram as trevas.
Levei chifre de quem teoricamente nem poderia me trair e sofri como se o amor da minha vida tivesse me apunhalado pelas costas.
Quando Rodrigo apareceu, me senti a sortuda em pessoa. Ele era mais bonito que Vitor, beijava muuuito melhor, educado, gostava de sair, um homem completo. Mas era tudo mentira. Até uma namorada ele tem. E nem posso diminuir o sofrimento do meu ego, dizendo que sou mais bonita do que ela, porque não é verdade.
Levantei e chamei Júlia para sairmos dali. Ela perguntou se eu achava melhor ela ir dormir na minha casa, mas preferi ficar sozinha. Precisava de um tempo para digerir aquilo tudo.
Deitei na minha cama e quase tive uma convulsão de tanto chorar. Eu tentava convencer o meu coração que eu não iria morrer. Que tudo ia passar em breve. Para de drama. É só uma pessoa que você se apaixonou e que não gosta de você. Isso existe aos montes por aí. Não perca o controle. Mas ele não entendia.
O celular vibrou indicando uma nova mensagem. Antes mesmo de desbloquear a tela já vi o nome dele.
Abri a mensagem.
Rodrigo:
Carol, antes de tudo, eu não enganei você. Quando ficamos a primeira vez, eu não tinha nenhum relacionamento com a Simone. Fiquei com ela algumas vezes depois que terminei o noivado e agora nos aproximamos novamente. Não é um namoro ainda, mas estamos muito próximos.
Gritei palavrões dentro do meu quarto, mas no final só respondi: “Ok”.
Rodrigo:
Eu posso fazer alguma coisa para você retirar essa impressão ruim de mim?
Sinceramente, não sei o que eu pensei quando mandei a mensagem seguinte.
Carol:
Pode. Se quer mesmo se redimir, venha aqui em casa agora.
Meu raciocínio estava longe de ser sensato e meu amor-próprio saiu para passear e esqueceu de voltar.
Rodrigo:
Eu não tenho como ir agora, Carol. Ainda estou na festa e Simone está comigo. Não posso deixá-la sozinha.
Carol:
Ok.
Sábado, dia 25 de fevereiro de 2017 foi eleito o dia mundial da humilhação, em homenagem à Carolina Pinheiro, que atingiu o grau máximo de humilhação em um único dia.
A menina que tinha controle sobre seus sentimentos. Uma pessoa sensata e sem muito drama no quesito amor, levou uma rasteira tão grande que bateu a cabeça no chão e estufou os olhos. Virei um ser estranho e totalmente desconhecido.
O mundo estava louco. Eu, solteira, em casa, com o coração partido por um quase estranho e meus pais nas festas curtindo o carnaval. Liguei a televisão para tentar distrair um pouco o meu sofrimento. Estava passando o desfile das escolas de samba.
Uma multidão de pessoas felizes, cantando e dançando. Desliguei a televisão. Já estava prevendo um novo episódio de derramamento de lágrimas, quando meu celular vibrou.
Uma nova mensagem de Rodrigo.
Rodrigo:
Carol, estou em frente a sua casa. Ainda posso te ver?
Ele veio? Comemorei como se o Brasil tivesse virado aquele jogo da copa do mundo contra a Alemanha e feito 8×7.
Carol:
Não deveria, mas estou indo aí.
Lavei o rosto, passei um pouco de maquiagem e fui encontrá-lo.
– Oi – eu disse assim que o vi.
– Esperava uma recepção melhor. Será que mereço essa frieza toda?
– Se você quer carinho, vá pedir a sua namorada.
– Hahaha. Vistam as armaduras que ela está armada! Vamos conversar, Carol.
Como era difícil odiá-lo. Até as besteiras que ele dizia eu achava legal, mesmo tentando não demonstrar.
– Pode começar. Estou escutando.
– Não precisamos ser inimigos. Eu não fiz nada de errado com você. Só me afastei por um pedido do meu irmão e acabei me aproximando da Simone.
– Tudo bem então, pode ficar com ela. Eu vou entrar, nem sei por que te chamei aqui.
– Ei, espere! Eu gosto muito de você, mas acho que se ficarmos juntos teremos muitos problemas.
– Eu estou curiosa para saber uma coisa. O motivo de você ter desistido do carnaval de Salvador foi para ficar com ela?
– Não, Carol. Um amigo que ia comigo ficou doente e achei melhor desistir também. Apesar de gostar de ficar com ela, não é nada sério.
Não era nada sério com ela, comigo e nem com ninguém. O rei do “nada sério”. Ele me puxou pra perto e me abraçou.
– Acredite em mim, você é muito especial. Que outra razão eu teria para estar aqui?
Rodrigo segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou. Pronto. Estava feita a desgraça. A raiva passou e o sentimento tolo ganhou mais força. Ficamos até 1h30 da manhã.
– Durma bem, linda. Depois combinamos alguma coisa.
Entrei na minha casa com uma sensação de felicidade, mas algo me dizia que era melhor não exagerar no entusiasmo.
No outro dia, acordei com Júlia me ligando. Ela queria ir almoçar. Concordei e saímos para almoçar uns quarenta minutos depois, mas não contei nada sobre o encontro com Rodrigo na noite passada.
Na verdade eu não queria escutar mais sermões sobre isso, além daqueles que a minha consciência insistia em me dizer. Mantive em segredo e, talvez, em outro momento, eu contasse.
Júlia foi ao banheiro depois que pagamos a conta e eu fiquei esperando na mesa.
– Você não vai acreditar quem eu vi aqui – ela disse assim que voltou.
– Quem? – perguntei curiosa
– O safado do Rodrigo. Está sentado um pouco mais atrás com a mulher de ontem.
– Sentados? Como?
– Como? Em cadeiras, Carol.
– Isso eu sei, neh! Quero saber se estavam próximos como um casal.
– Sim. Estavam se divertindo, ela dando comida na boca dele. Mas Rodrigo pareceu assustado quando me viu.
– Claro que ele pareceu assustado. Como a pessoa pode ser tão falsa desse jeito? Garçom, por favor.
O garçom chegou e pedi um cheesecake.
– Vai pedir mais uma sobremesa? Já pagamos a conta.
Eu sabia, mas precisava daquele cheesecake. Naquele momento ele era tão vital quanto o ar que eu respirava.
– Eu sei, Júlia. Mas eu preciso.
– Tudo bem então.
Ela me olhou como se eu tivesse ficado louca e não falou mais nada. Quando o garçom trouxe a sobremesa, pedi a Júlia que me levasse até a mesa dele. Ela não concordou muito, mas me levou até lá.
Quando chegamos, Rodrigo já estava pedindo a conta.
– Tudo bem, Rodrigo?
– Oi, Carol. Coincidência encontrar você por aqui.
– Pois é. Muita. Acho que esqueci de falar pra você ontem de madrugada, quando estava na minha casa, que odeio gente mentirosa. Ou será que eu falei e você esqueceu?
– Carol!
– Carol, nada! Tenho nojo de você!
Falei baixo. Não queria chamar muita atenção. Apenas as mesas mais próximas perceberam.
– Carol … – ele tentou novamente.
– Não sabia que você gostava de comida na boquinha. Se o problema era esse, devia ter dito antes.
Me aproximei bem pertinho dele e esfreguei todo o cheesecake em seu lindo rosto.
– O que tá acontecendo aqui, Rodrigo? – Simone, a quase namorada, perguntou assustada.
– É uma amiga minha.
Ele não tinha limites. Mais cara de pau impossível.
– É mesmo? Eu sou sua amiga? E ela, é o quê?
– Ela? É minha amiga também.
A menina não escondeu a decepção.
– Vamos, Júlia?
Não aguentava mais olhar para ele e todas as suas mentiras.
– Ei moça, a conta!
Na confusão, esqueci completamente de pagar a sobremesa. Agora além do mini barraco, as pessoas ainda iam pensar que eu era caloteira.
Júlia arregalou os olhos e fiquei sem entender.
– Você pode me explicar o que está acontecendo aqui, Carolina?
Ah não, meu pai.
Continua…
Plá
Muita atenção com as pessoas que mentem muito bem. Se você não tiver cuidado, elas te farão desacreditar da sua verdade mais pura.