O pedido de Alice a Papai Noel

papai noel

Hoje vou falar sobre Alice e o seu pedido ao Papai Noel.

No dia 24/12/2015 Alice chegou à casa da sua tia para a ceia de natal. Se não tivesse um peru em cima da mesa e um Papai Noel gigante bem na sua frente, ela teria certeza que tinha errado a casa e entrado em um evento de encontro de casais.

Suas primas, quatro para ser mais precisa, seu irmão e dois primos, todos namorando. Alice falou um “boa noite” e sentou tentando parecer indiferente aquela cena, mas não demorou muito para a sensação de tortura começar: beijos, abraços, os mínimos detalhes de como foi o primeiro beijo, o primeiro olhar, uma disputa acirrada para ver quem era mais feliz e apaixonado.

– E você, Alice? Já tem algum namoradinho?

– Tenho não, tia.

– Não é possível. Diga a verdade! Tenho certeza que deve ter alguém e não quer nos contar.

A verdade era que Alice não tinha ninguém MESMO. O último menino por quem ela se interessou  tinha começado a namorar há uma semana. Solteira e sozinha sem ninguém que valesse a pena mandar uma mensagem no final da noite.

– Não quero namorar agora, tia. Estou muito bem sozinha.

Alice tentava convencer a si mesma sobre o que acabara de falar, mas a vontade de fazer parte do time dos “felizes para sempre” estava bem viva em seu coração. Foi pensando nisso que ao olhar para aquele Papai Noel se remexendo ao som de Jingle Bells ela decidiu arriscar e fazer um pedido especial a ele.

“Papai Noel, eu preciso, assim, precisar eu não preciso, mas eu queria ganhar um presente diferente. Se o senhor tiver interesse em me ver mais feliz, por favor, me mande de presente um namorado lindo e engraçado”.

Ela pensou que “lindo” e “engraçado” fossem adjetivos suficientes para Papai Noel entender o que ela queria.

Alice acreditou que Papai Noel mandaria seu presente e assim que chegou em casa depois da ceia, recebeu uma notificação no WhatsApp.

“Oi Alice, que tal jantar a luz de velas, champanhe com cereja e a professora de inglês sentada na mesa? kkkkkk Gostou da nova rima?  kkkkkkkkk”

Alice pensou que aquilo só podia ser uma resposta de Papai Noel. Tudo bem que a piada não teve a menor graça, mas devia ser o nervosismo. A primeira aproximação é complicada para todo mundo.

“Oi. Gostei, foi legal. E com vc Luiz Henrique, tudo bem?”

Luiz Henrique estudava inglês com Alice. Era alto, tinha o corpo sarado, branco e o cabelo bem preto. Alice sempre o via cercado de pessoas que o idolatravam, inclusive sua namorada. No último dia de aula, Alice soube que o namoro dele tinha terminado, mas em nenhum momento pensou que teriam alguma coisa.

“Estou bem. Mas se puder te ver, ficarei melhor, neném. kkkkkkkk”

Papai Noel não devia ter muita noção sobre como identificar uma pessoa engraçada – Alice pensou e continuou conversando com Luiz Henrique.

Não demorou muito, exatamente dois meses depois, e os dois começaram a namorar. Alice sentia que faltava algo para fazer parte verdadeiramente dos felizes para sempre. Mas ela estava feliz, apesar das piadas de Luiz Henrique nunca serem engraçadas, no quesito beleza, Papai Noel acertou em cheio.

Quase um ano tinha se passado e Alice contava os dias para a nova ceia de natal. Pela primeira vez estaria namorando e responderia sem nenhum constrangimento todas as perguntas melosas e indiscretas das suas tias.

Faltando quinze dias para o dia 24/12/2016 Luiz Henrique combinou de pegar Alice às 19h para irem escolher os presentes do amigo-secreto do inglês. Às 19h15 Alice começou a ligar e continuou até as 21h quando o celular de Luiz Henrique passou a não chamar e informar: Sua chamada será encaminhada para a caixa de mensagem e estará sujeita a cobrança após o sinal piiiii.

Alice ligou para os pais dele e o irmão, mas ninguém sabia de nada. Já estava em desespero e decidida a ir á polícia quando, às 23h58, chegou uma mensagem dele.

Alice, eu voltei com Joice. Não atendi pq estava conversando com ela. Não tenho muito o que dizer, ela quis voltar e eu aceitei. Desculpe aí.”

“Foi mesmo? Parabéns! Estou muito feliz, pelo menos não tenho mais que ouvir suas piadas idiotas.”

“Vc é engraçada!”

Alice pensou como ela foi capaz de aturar por quase um ano um idiota daquele e passou a odiar Papai Noel. Agora ela não seria apenas a solteira, mas a largada, traída, trocada, a coitada, abandonada…

Alice disse que não ia para o tradicional natal na casa da sua tia naquele ano, mas depois que sua mãe “pediu” ela teve que ir. Assim que chegou ela já se deparou com os olhares de pena. Sua tia mais dramática a abraçou como se tivesse morrido alguém e além de tristeza Alice sentiu raiva de tudo aquilo. O pior natal da sua vida.

– Tudo culpa sua Papai Noel. Sempre que alguém me perguntar eu direi que Papai Noel é um monstro disfarçado de velhinho simpático. Eu sabia que esse “hohoho” era falso – ela pensou e pegou o celular para não olhar e nem falar com mais ninguém.

Quarenta minutos depois Alice continuava mexendo no celular e ouvindo os cochichos das suas tias, quando um dos seus primos chegou. Mais um pra falar besteira – ela comentou sozinha.

– Pessoal esse é aqui é o Gui, meu colega da faculdade. A família dele mora fora e ele vai passar o natal com a gente.

Alice não tinha visto Gui e levantou a cabeça para olhar. Ela pensou que era um ataque epilético, mas era o coração enlouquecido. Ela não conseguia desgrudar os olhos dele e Gui correspondia com a mesma intensidade.

– Posso sentar aqui? – Ele perguntou a Alice.

Os dois ficaram sentados um do lado do outro a noite inteira e o velho Papai Noel dançando Jingle Bells no canto da sala agora parecia sorrir pra Alice.

Lição de Natal: Acredite no Papai Noel. Ele pode se atrapalhar, mas fará de tudo para ver você feliz. Só que, pra evitar confusões, seja bem específico no seu pedido, não omita nenhum detalhe. O ditado: para bom entendedor, meia palavra basta. Em nenhuma hipótese deve ser usado nesses casos.

Deixe seu comentário