Uma cena real dentro do livro

kalliny moura

Eduarda se perde da amiga na primeira vez que ela sai de casa para ir a um show. Bom, isso aconteceu comigo de verdade.

Quinze anos, nunca tinha ido a um show na minha vida. Alugamos uma van, eu não conhecia ninguém além da minha amiga. Algumas pessoas eu já tinha visto no colégio, mas não tínhamos nenhum contato, nem “oi” falávamos.

A van parou no estacionamento do show. Já me assustei um pouco com a multidão. Descemos e começamos a andar em direção ao portão de entrada. Minha amiga e o namorado se afastaram do grupo. Quando eu vi, eles haviam ficado para trás e estavam discutindo. Senti o impacto. Pensei: graças a Deus que olhei para trás a tempo. Já pensou se eu me perco deles?

Enquanto eu imaginava por qual razão eles haviam decidido iniciar uma confusão, antes mesmo de entrar na festa, eles sumiram. Foi menos de cinco minutos, tenho certeza, olhei para trás e… nenhum sinal deles. Dei um giro de 360 graus, olhando com desespero para os infinitos rostos desconhecidos. Não era possível uma abdução daquelas. Mas tinha acontecido mesmo.

Sem saber o que fazer, corri para me aproximar das outras pessoas da van, que já estavam distantes, uns dez metros à frente.  Perguntei se poderia ficar na festa com elas. A reação foi igual a do livro: “tanto faz”.

Eu, a insignificância em pessoa. Tudo bem, melhor do que ficar sozinha. Talvez não tenha sido a melhor ideia que já tive.

Acompanhei como se tivesse sido um sim e fiquei lá, a cada empurrão um sobressalto.

Até que… uma confusão.

Minhas companheiras de festa começaram uma discussão, porque uma beijou o ficante da outra. Não bastava estar sozinha, tentado participar de um grupo que me ignorava, ainda tive que presenciar um roubo de crush.  

Meu papel na confusão foi o da pessoa que pede calma e ninguém escuta. Após uns dez minutos de “você é essa”, “você é aquela”, “nunca mais fale comigo”, o grupo se separou. Eu não escolhi lado, eu nem sabia quem tinha ficado com quem, traído, beijado. Apenas fui levada, leia-se empurrada, para um lado.

O resto da noite foi de arrependimento por ter insistido tanto para minha mãe me deixar ir aquele show.  No final da festa, totalmente desanimada, encontrei minha amiga. Briguei por ela ter me deixado SOZINHA.

Vocês acreditam que ela sorriu e, bem tranquila, disse: “foi sem querer?!”

Sempre que chamarem vocês para uma festa e disserem que será a melhor do mundo, tudo perfeito demais, desconfie.

O senhor língua grande não estava na cena real. Pelo menos não naquele dia. Pode ter sido outra vez, vai saber?! Não lembro mais. Kkkkkk.

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